O espetáculo da bailarina

Quando as cortinas se abrem e os aplausos surgem, Poliana – ou simplesmente Polly, como as amigas a chamam em referência a sua baixa estatura – sente o calor tomar conta do seu corpo. Não é a primeira vez que se apresenta com seu grupo de balé, mas é sua estreia como bailarina principal. Todas as atenções estão voltadas para si, e ela sabe que não pode errar. Tem de se comportar como a estrela, aconteça o que acontecer. E, bem, ela terá sua provação em poucos minutos.

Na plateia, além do grande público anônimo, seus pais e mais alguns amigos da família estão lá para prestigiá-la. Muita gente está devidamente munida de seu celular ou câmera digital para registrar o momento daquelas moças entre dezoito e dezenove anos que há muito tempo lutam para seguir carreira de bailarina profissional. Aliás, em poucas semanas o grupo viajará para a Europa, onde se apresentará em uma competição de dança de todas as partes do mundo.

Quando os primeiros acordes começam, e também os primeiros movimentos corporais, Polly percebe algo estranho em seu collant – sente-o levemente afrouxado, diferente da firmeza habitual. Em pouco tempo, as alças esgarçam na costura e se soltam, dobrando um pouco do tecido na altura dos seus pequenos seios e deixando parte das auréolas à mostra. Ela vira de costas para a plateia, puxando o pano para cima, o que lhe parece a melhor solução naquele instante. Porém, com a agitação, não percebe que a parte de baixo de seu collant foi repuxada e retesada em sua boceta, o que, ainda assim, não é problema por conta da saia de tule que lhe cobre o ventre.

Se volta para a plateia, e logo as fileiras da frente percebem o problema em sua roupa. Polly, por sua vez, nem pensa em parar – demorou muito para conquistar aquele lugar, e não vai deixar nada atrapalhá-la, nem que fique… Ao ser erguida pelos braços e segura pelas pernas, o collant desce de vez, e os seios da jovem ficam expostos para o público, que emite um sonoro oh! As moças que a levantam não percebem o ocorrido, diferentemente de Polly, que começa a corar e não consegue tirar os olhos de suas cerejinhas (como ela carinhosamente denominou seus seios, tanto pelo formato pequeno como pela cor dos mamilos, bem avermelhados), tão bem iluminadas pelos fortes holofotes.

Ao ser colocada de volta às tábuas do palco e ser deixada sozinha para completar a parte solo do espetáculo, Polly se ajoelha de costas para a plateia, que está agitada. Os pais da menina, perplexos, estão mudos. Na coxia, a diretora gesticula com os lábios que vai fechar as cortinas, mas a jovem, ao olhar em sua direção, pede que não. Se levanta, puxando a saia de tule para a altura dos seios, cobrindo-os, e se vira novamente para a plateia, que solta mais um sonoro oh! Polly não percebe que seus róseos grandes lábios estão à mostra, assim como suas brancas e redondinhas nádegas, que logo puderam ser contempladas pelo público nos movimentos seguintes. A cada vez que virava de costas para público, era impossível para eles desgrudarem os olhos daquelas carnes branquinhas que sacudiam levemente com os movimentos de salto.

Antes do gran finale, porém, o restante do collant, que ainda a cobria até a altura da cintura, cai, ficando apenas preso na cavidade da boceta, que, agora à mostra, revela-se cabeluda. Mesmo percebendo o pano roçar-lhe as coxas bem torneadas, Polly prossegue a apresentação, acreditando que o fato de sua intimidade estar coberta por pelos pubianos é o menor dos problemas. Ledo engano; o falatório é geral, e só não é mais audível porque a música se eleva junto ao clímax do espetáculo. Os flashes das câmeras fotográficas espocam com cada vez mais intensidade, e os celulares gravam, com maior ou menor grau de resolução, aquele espetáculo único que, em poucos minutos, estará disponível para qualquer internauta nas redes sociais. Nesse momento, os pais de Polly, constrangidos que estão, se levantam e deixam a plateia, não sem alguns protestos quando passam na frente de quem está gravando e não quer perder nenhum movimento.

No último acorde, ao se postar na derradeira posição de sua dança, Polly fica estática, com os braços erguidos, equilibrada apenas pela perna esquerda enquanto a direita é dobrada com o pé a altura do joelho esquerdo. O silêncio, agora, é absoluto. Antes que a cortina se feche por completo, a saia de tule escorrega e desce ao ventre, deixando novamente suas cerejinhas à mostra, mas a jovem enfrenta a vergonha e se mantém firme, mesmo querendo colocar as mãos sobre os seios. Para ela, o balé sempre veio em primeiro lugar, e não seria agora, mesmo exposta, que mudaria sua concepção.

Com a cortina fechada, ouve o falatório da plateia, percebe a movimentação à sua volta mas não consegue escutar o que as meninas do balé lhe dizem, muito menos o que sua diretora lhe fala, ríspida, à sua frente. Tenta cobrir os seios com as mãos, tenta falar, tenta fugir dali, mas não consegue fazer nada – parece uma estátua, de tão rígidos que seus músculos estão. A soma de todo o stress durante a apresentação parece ter acertado-a em cheio, e Polly, no meio daquele turbilhão de sensações e emoções, simplesmente se deixa continuar exposta, sem reação.

Sente um tranco quando seu pai a puxa pelo braço, tirando-a dali. Percebe que sua mãe coloca um dos braços à frente de suas cerejinhas, apertando-as com força, e, com a outra mão, puxa a saia de tule pra frente, a fim de cobrir-lhe a boceta. Quando consegue, a mãe de Polly põe a mão sobre as nádegas da jovem, numa última tentativa desesperada de protegê-la enquanto tentam abrir caminho por entre as pessoas no saguão lotado do teatro em direção a rua. Mas todo esforço dos pais para ajudá-la parece em vão quando Polly, saltitando desajeitadamente com suas sapatilhas apertas, tropeça e, com movimentos bruscos, acaba se soltando deles. Se segura como pode nos ombros, braços, bolsas, enquanto tenta se reequilibrar novamente, encostando seu corpo e suas partes íntimas naqueles desconhecidos que logo se espantam com o que está acontecendo.

Aflita com as sensações que tem a cada roçar de braço em suas cerejinhas, cada mão involuntária em suas nádegas e boceta, Polly, com sua pequena estatura, chama pelos nomes dos pais, mas obviamente, com o burburinho todo daquela gente, mal consegue se ouvir. Quando percebe uma brecha na multidão, vai com tanta sede ao pote que nem percebe estar indo de encontro a uma escada – a escada principal do local – e tropeça no primeiro degrau, caindo com tudo sobre os outros. Sente o baque na cabeça e fica um pouco zonza, o que lhe impede de levantar. Pra sua sorte, a escada é acarpetada e ela não se fere; pra seu azar, com a largura entre os degraus, seu tronco fica na horizontal, com as pernas dobradas, o que deixa as nádegas certeiramente abertas e coloca em exposição não apenas sua já conhecida boceta, mas também… um pequeno vibrador anal! O motivo de usá-lo? Descobriu, certa vez quando ainda era bailarina secundária, que aquele pequeno objeto ajudava a relaxar a tensão. Desde então, usava-o em todos os espetáculos, até que…

As pessoas, claro, não se mobilizam para ajudá-la. Como num caso desses, sacam seus celulares pra gravar a cena. Quando os progenitores de Polly abrem caminho pelo público, o pai é o primeiro a ver a filha naquela posição. A mãe, vindo logo em seguida, solta um grito. A jovem então apoia as mãos nos degraus, virando a cabeça pra trás e parece se esforçar pra dar um sorriso. Nesse instante, o vibrador se desacopla, rolando aos pés de seu pai. O homem, enquanto vê o ânus da filha diminuir de tamanho, não tem dúvida: senta na escada e lhe dá umas boas palmadas. A mãe pede pra que ele pare, e tenta segurá-lo. Mas o pai é mais forte e continua. Polly geme a cada nova pancada, e suas nádegas vão ficando cada vez mais vermelhas. Assim como quando estava no palco, os flashes e celulares trabalham com eficácia, registrando tudo.

Quando, após um minuto, se julga satisfeito, o pai puxa Polly pelos cabelos e a joga contra a multidão, pra abrir caminho. Enquanto a jovem está com as mãos sobre a do pai, pra tentar tirá-la, as pessoas não exitam em tocar seu corpo. Alguns apenas passam a mão. Outros apalpam suas intimidades com vontade, dificultando o avanço. E as mulheres, em geral, distribuem tapas em suas cerejinhas e nas nádegas. Uma última, antes que eles consigam finalmente chegar na porta, puxa os pelos da boceta de Polly com tanta força que lhe arranca um chumaço de pelos com as mãos, e faz a jovem gritar de dor. Alguns mais animados ainda acompanham a família até o carro, há duas quadras dali.

Depois desse dia, Polly continuou na dança. Com a fama alcançada nas redes sociais, se tornou stripper.

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