Segredo de Marcos – Pedofilia ao inverso

Como seria se as crianças que abusassem dos pedófilos? Peguei o roteiro de um pequeno filme sobre abuso sexual infantil – O Segredo (série Os Pássaros e as Abelhas), do You Tube, sugiro que o assista antes – e escrevi o contrário, acrecentando algumas coisas.

Meu nome é Marcos, tinha 18 anos na época e dividia os segredos mais bizarros com meus amigos da escola. Em um momento em que a aula estava préstes a acabar, Juca aparece do meu lado e diz:
– Deixa eu te falar um negócio, a Joana disse que a Sara tem nudes no celular.
Quando estou saindo da sala, a Sara me pára e diz.
– Esse tal de Guto só tem geito de machão, mas disseram que ele é o maior viado da cidade.
Antes de sair da escola, Guto aparece e me fala que a Sara é lésbica. Então eu começo a rir, e ele fica meio sem entender, mas deixa quieto.
Mal paro de rir e Sara vem me dizer:
– Marcos, tu notou que o Bruno foi embora na hora do recreio e a Malu alguns minutos depois?
– Notei.
– Tu tá ligado que a mãe dela não deixa ela sair de casa, né? Só da escola pra casa.
– Eu, sei.
– Então, eles foram fuder.
– Nossa, que doidera, hem?
Eu e meus amigos falamos até sobre nossas próprias bizarrices. Sara e eu, sentados em um banco da praça, próximos à escola, seguimos com a brincadeira. Ela me fala que engoliu um prego e eu tento lembrar de algo a altura. E, então, vejo saindo da escola, Nara, uma menina de 7 anos, de cabelos pretos, lisos, a altura do queixo, de pele branca e muito bonita, junto de seus amigos de sua mesma idade. Ela me vê e dá um tchauzinho, então lembro do segredo que não poderia contar a ninguém. Perdi completamente o ânimo. Sara até estranhou. Me despedi dela e fui embora.
À noite, estou no sofá da minha casa assistindo TV, comendo pipocas, tranquilo, quando ousso alguém entrar, era Nara, que morava no andar de cima. Ela vem correndo e senta-se, em um pulo, ao meu lado. Como sempre faz. Eu logo fico nervoso. Esse segredo é entre mim e ela.
Nara aproxima a mão dela sobre minhas pernas, então eu levo um pequeno susto e me encolho. Mas ela apenas ia pegar o controle remoto do outro lado. Como de fato fez, e colocou em uma novela no momento em que um casal estava se beijando. Ela sorri e pergunta:
– Marcos, você me acha bonita?
– Acho. – Respondo de forma tímida.
Depois ela pergunta se eu quero dar banho nela.
– Você já pode tomar banho sozinha.
– Mas tem umas partes do meu corpo que eu não posso alcansar.
Eu acabo aceitando.
Após o banho, Nara me fala:
– Se você contar o que fizemos eu digo que você abusou de mim e você já era.
Minha mãe acaba descobrindo.
– Não pode ser. Como você pode fazer essas coisas com uma criança?
Depois meu pai senta-se ao meu lado, parecendo ser compreensivo.
– Pai? – Olho demostrando todo meu sofrimento.
– Marcos, – Ele olhou para frente. – pensei que tínhamos criado um ser humano.
– Não digam isso. – Começo a chorar.
Eles saem, entram no carro e minha mãe diz:
– Você não é mais nosso filho. – e acelera.
– Mãe! – Grito com todas as minhas forças, em vão.
Cáiu de joelhos, completamente abalado.
Vejo que meus amigos Juca e Sara estão atrás de mim. Viro-me e tento abraçá-los, achando que me acolheriam, mas dão um passo para trás.
– Não podemos ser amigos de pessoas como você. – Eles estavam me olhando com total despreso. – Eles vieram te buscar. – Me viro e vejo que são dois policiais.
– Você é Marcos Medeiros? – Pergunta um deles.
– Sim, mas, o que foi que eu fiz?
– Abuso sexual infantil – responde o outro, já me algemando.
Tentei escapar, chorei, esperniei, mas fui levado assim mesmo. Veio à mente uma frase de Nara: "se você não guardar nosso segredo vão te amarrar depois vão cortar seu pênis". De fato, me colocaram em uma sala de cirurgia, imobilizado e sem roupa. Uma enfermeira se aproxima, com uma lâmina e pergunta:
– Então você gosta de criancinhas?
– Por favor, não faça isso? – ela começou a cortar meu pênis, enquanto eu gritava.
Então acordei. Era só um sonho, e minha mãe está bem ao meu lado, preocupada.
– O que foi Marcos, você estava gemendo, eu vim ver o que era.
– Eu tive um pesadelo. – Em seguida, deitei novamemte, ainda com muito medo – Eu tô bem mãe, pode ir dormir.
No dia seguinte, na aula, o professor de português estava entregando as provas corrigidas. Todo mundo comentava suas notas, uns reclamando, outros comemorando. E, então, o professor me chamou a atenção.
– Marcos, você tirou apenas 3,0 pontos, pela primeira vez. Pode me explicar o motivo disso?
– Não. – Respondi enquanto rabiscava meu caderno, demonstrando máximo desânimo.
Notei que os demais alunos ficaram menos animados depois de me verem daquele geito, pois eu costumava ficar sempre alegre. Aquilo não era meu normal, embora já tenha ficado assim outras vezes, desde que conheci Nara.
Na tentativa de levantar meu astral Sara brinca:
– O Juca tirou 3,0 pontos, também, mas não foi por outro motivo, é por que é burro mesmo.
Todo mundo riu, exceto eu.
Depois do último pesadelo, tentei me afastar de Nara, mas ela começou a perceber e poderia me seduzir, então eu procurava sempre estar perto de outra pessoa, pois assim ela teria que se portar normalmente. Porém, na hora do recreio, inevitalvelmente, teve um momento em que eu estava sozinho em um dos corredores e vi que ela estava vindo em minha direção, minha única opção foi entrar na sala dos professores, onde estava apenas a professora de filosofia, que logo me cumprimenta:
Oi! Marcos! – enquanto digita no computador – Deseja alguma coisa?
– A senhora teria um remédio pra dor de cabeça? – Essa foi minha desculpa.
– Acho que sim, peraí – Ela abriu sua bolsa e começou a procurar. Ah! Aqui está. – Ela se vira pra me entregar o remédio e vê Nara na porta. – Oi! Lindinha! Posso adujá-la em alguma coisa?
– Eu só queria chamar o Marcos para jogar Dama.
– Ele não pode agora, está com dor de cabeça, e vai ter que descansar, agora. Se quiser eu jogo com você. Só vou enviar esse e-mail, rapidinho.
Eu tomei o remédio e saí de pressa. Nara ficou com a professora.
Em casa, eu estava com minha mãe lavando louça, quando Nara vem me chamar para brincar na piscina. Falei que estava com dor nas costas.
– Não parece. – Nara cruzou os braços.
Minha mãe estranhou:
– Ué! Marcos! Agora tu prefere trabalhar do que brincar?
– Se reclamar eu paro. – Falei um pouco bravo, embora o sentimento fosse de medo.
– Quando a gente terminar vamos todos pra piscina, pode ser?
– Tá bom. – Nara concordou, decepcionada, já que minha mãe iria junto – Espero vocês lá.
À noite, quando eu estava jogando video game com meu pai, ele começou falar:
– Sabe, Marcos, sua mãe me disse que a Nara anda reclamando que você está evitando de brincar com ela. Qual é o problema?
– Eu tô bravo com ela.
– Por quê?
Eu ia inventar uma mentira, mas pensei melhor.
– Ela é muito intantil, só isso, pai.
– Claro, por que é uma criança. O que você esperava?
Meu pai pausou o jogo e olhou para mim:
– Você tem que entender que nesse condomínio não tem ninguém com menos de 40 anos além de vocês dois. Já reparou?
Desliguei o jogo e fui dormir.
– Boa noite pai!
– Mas eu estava ganhando, muleque! – Ele diz humorado, pois não sabe o quão a situação é séria. – Isso que dá, tentar conversar contigo. – Ele levanta, dá boa noite e sai.
No outro dia, fui bem cedo ao parque, sentei em um banco e decidi que não ia mais falar com ninguém. Juca e Sara estavam passando e logo me viram.
– Hei! Marcos, quem foi que te botou de castigo aí?! Haha! – Pergunta Juca, sentando-se do meu lado.
Sara diz:
– Quem manda tirar nota baixa?
Sem sorrir, me levanto e começo a andar. Eles continuam zuando. Mas eu não queira ficar alegre, eu queria ser odiado, e queria ter ódio, como se esses sentimentos fossem substituir a parte da minha mente que eu queria excluir. Apesar da grosseria, meus amigos não se importavam tanto, já sabiam que eu era problemático mesmo e que logo estaria de volta.
Enquanto voltava para casa, sozinho, vendo que a rua estava deserta, peguei uma pedra para quebrar uma lâmpada de um poste público. Mas meu pai passou bem na hora, então joguei a pedra em um lago.
– Hei! Marcos! A gente pesca é com vara e anzou!
Tentei me segurar, mas acabei rindo. E o segui conversando normalmente.
Mais uma vez, eu estava me divertindo com meus amigos, cada um em uma bicicleta, apostando corrida morro a baixo, em uma floresta. Mas acabo me perdendo deles. Começo a ficar preocupado. Chamo por eles mas não respondem. O céu escurece rapidamente. E ousso a sirene da polícia. Logo lembro da voz de Nara, dizendo que todo mundo me odeia. Ousso policiais com cães farejadores me procurando. Finalmente sou cercado e eles soltam os cães sobre mim.
Acordo de madrugada e vejo que foi só um sonho. Me levanto, abro a janela e grito bem alto.
– Fila da puta! – Buscando ódio.
Um cara que, provavelmente, estava tentando assaltar uma casa no outro lado da rua acaba se assustando e sai correndo.
De manhã, pego minha bicleta e começo a correr ao máximo que posso, para esquecer meu segredo. Passando até mesmo em locais restritos para pedéstres. Já estava acostumado. Passei entre um casal. "Quer se amostrar é, palhaço?!", ousso. Bem a frente quase sou atropelado por um carro. "Olha por onde anda!", o motorista diz, mas nem ólho para trás. Juca, alguns metros à frente, me vê e reclama:
– Por que quando a gente te chama pra correr de bicleta você não vai?!
Aumento a velocidade e entro em uma área de vejetação. Passo entre dois arbustos, mesmo sem saber o que tinha a frente. E Juca grita?
– Tu é doido, é?! Tu vai se matar!
Continuei, até ser vencido pelo cansaço e cair. "Eu queria ser outra pessoa, virar outra pessoa, como se muda de roupa", pensava. Tomando banho, imaginava a existência de um sabão que pudesse lavar dentro do meu corpo, para poder lavar essa atração nojenta de dentro de mim. Queria voltar a ser normal, olhar para crianças e não sentir nada, olhar para adultos e sentir o que deveria sentir. Eu queria ser a pessoa que eu costumava ser.

Postarei a continuação logo, logo!

Avalie esse conto:
PéssimoRuimMédioBomExcelente
(0 Votos)
Loading...